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Categoria: Qualidade do Leite

IN77: por que a adequação à regulamentação ainda é um desafio para os laticínios?

23 de de 2025

A regulamentação do setor de laticínios passou por mudanças significativas nos últimos anos, e a Instrução Normativa 77 (IN77) do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) representa um marco importante nesse processo. No entanto, apesar de já estar em vigor há algum tempo, muitos laticínios ainda enfrentam dificuldades para se adequar completamente às exigências, o que evidencia que o problema persiste e a qualidade do leite ainda não é vista como uma necessidade estratégica por muitos produtores.

Aprovada para elevar a qualidade do leite produzido e comercializado no Brasil, a IN77 estabelece critérios mais rígidos para Contagem Padrão em Placas (CPP), controle de Células Somáticas (CCS), rastreabilidade e boas práticas na coleta e transporte. Embora esses padrões tenham sido implementados para trazer maior segurança e competitividade ao setor, a adaptação completa ainda não é uma realidade para todos.

Principais mudanças da IN77

A IN77 entrou em vigor para complementar a IN76, que já previa padrões mínimos de qualidade do leite. No entanto, mesmo após anos de vigência, muitos laticínios e produtores continuam enfrentando barreiras para alcançar a conformidade total. Entre as principais exigências da norma estão:

1. Padrões mais rigorosos para Contagem Padrão em Placas (CPP) e Células Somáticas (CCS)

Contagem Padrão em Placas (CPP): A norma reduziu o limite máximo permitido, exigindo um controle sanitário mais eficiente na produção. No entanto, muitos fornecedores ainda não se adaptaram, o que gera altos índices de reprovação nas análises laboratoriais e impacta diretamente os processos industriais, como a pasteurização, que precisa ser mais intensa para compensar a alta carga microbiana.

Contagem de Células Somáticas (CCS): A exigência de níveis mais baixos de CCS visa garantir melhor qualidade e rendimento dos derivados lácteos. No entanto, uma CCS elevada não leva necessariamente ao descarte do leite, mas limita seu uso para produtos de menor valor agregado, afetando a flexibilidade e a rentabilidade do laticínio.

Antes da IN77, os laticínios tinham maior flexibilidade para coletar leite de produtores que não atendiam aos limites exigidos. Agora, as empresas precisam monitorar continuamente os fornecedores e interromper a coleta caso os padrões não sejam atendidos, o que reforça a importância da assistência técnica e do acompanhamento ativo na cadeia produtiva.

2. Regras mais rígidas para coleta e transporte

A IN77 não trouxe apenas novas exigências para o controle de qualidade, mas também reforçou a necessidade de boas práticas durante a coleta e o transporte do leite. Os laticínios devem garantir que o leite seja mantido sob temperatura controlada (abaixo de 4°C) desde a fazenda até a chegada à indústria.

A rastreabilidade total da cadeia produtiva é outro ponto crítico. A norma exige o registro detalhado de cada coleta, incluindo origem, temperatura e condições de transporte. No entanto, muitos laticínios ainda utilizam processos manuais para esse controle, o que aumenta o risco de falhas operacionais e dificulta a conformidade nas auditorias regulatórias.

3. Responsabilidade ampliada dos laticínios

Um dos principais desafios trazidos pela IN77 é a transferência de parte da responsabilidade pela qualidade do leite coletado para os próprios laticínios. Agora, as indústrias precisam:

Implementar sistemas de controle mais rigorosos sobre os fornecedores, garantindo que apenas leite em conformidade entre na linha de produção.

Realizar auditorias frequentes nas fazendas parceiras, o que representa um custo adicional e uma demanda por equipes qualificadas.

Assegurar a rastreabilidade e o monitoramento contínuos, minimizando os riscos de contaminação e reprovação de lotes.

O descumprimento dessas exigências pode resultar em sanções e penalidades, além da rejeição do produto no mercado, o que reforça a necessidade de uma gestão estratégica da qualidade.

Desafios para os laticínios na adaptação à IN77

Mesmo anos após sua implementação, a IN77 ainda apresenta desafios práticos para os laticínios, especialmente para aqueles que dependem de pequenos produtores e têm estruturas operacionais mais limitadas.

1. Adequação dos fornecedores

A nova regulamentação exige que os produtores mantenham padrões sanitários elevados de forma contínua, o que pode ser um desafio para aqueles que ainda não adotam boas práticas de ordenha, higiene e refrigeração. Para os laticínios, isso significa um trabalho ativo de:

Assistência técnica e treinamento: Para evitar reprovações nas análises laboratoriais, muitas indústrias precisam investir em programas de capacitação que alinhem os fornecedores às exigências da IN77.


Monitoramento contínuo: Realizar análises regulares de CPP e CCS, identificando possíveis riscos antes que o leite chegue à linha de produção.

2. Aumento dos custos operacionais

A adequação à IN77 implica em custos adicionais, especialmente para laticínios que ainda não possuem um sistema estruturado de controle de qualidade:

Investimento em tecnologia: Sistemas de rastreabilidade, sensores de temperatura e plataformas digitais para gestão de fornecedores se tornaram indispensáveis.

Auditorias e controles internos: O cumprimento da norma exige processos mais detalhados e frequentes, o que pode pressionar o orçamento das indústrias.

Gestão de resíduos de antibióticos: O leite com resíduos de antibióticos geralmente precisa ser descartado, o que reforça a importância de um controle rigoroso na origem para evitar perdas financeiras.

3. Exigência de tecnologia para rastreabilidade

A digitalização dos processos de qualidade se tornou fundamental para atender às exigências da IN77. Muitos laticínios, no entanto, ainda enfrentam desafios na implementação de sistemas tecnológicos capazes de:

Garantir a rastreabilidade completa da cadeia produtiva, desde a coleta até o produto final.

Automatizar o controle de qualidade, minimizando os riscos de falhas humanas.

Monitorar a temperatura e as condições de transporte, assegurando que o leite chegue à indústria dentro dos padrões exigidos.

Como os laticínios podem se adequar à IN77?

Diante das novas exigências, a adaptação à IN77 passa por três pilares fundamentais:

1. Parceria com produtores e assistência técnica

Investir na capacitação dos fornecedores é essencial para garantir que o leite coletado esteja dentro dos padrões exigidos. Isso inclui:

Treinamentos sobre boas práticas de ordenha e higiene.

Orientação sobre o uso correto de antibióticos para evitar resíduos.

Monitoramento contínuo dos índices de CPP e CCS.

Laticínios que adotam programas estruturados de assistência técnica conseguem reduzir significativamente as reprovações e os custos com perdas de lotes.

Resultados do serviço prestado pela Cia do Leite em um laticínio atendido, envolvendo um grupo de 191 produtores no período de 01/01/2024 a 31/12/2024. A assistência técnica proporcionou uma redução significativa na Contagem Padrão em Placas (CPP), passando de 2.500 UFC/ml para 900 UFC/ml, o que representa uma melhoria de 64%. Esses dados reforçam a eficácia das visitas técnicas, da capacitação dos produtores e do monitoramento contínuo da qualidade do leite, contribuindo para a conformidade com os padrões exigidos e a redução de perdas na indústria de laticínios.

2. Uso de tecnologia na gestão da qualidade

A adoção de sistemas digitais permite maior controle sobre a coleta, o transporte e a análise da qualidade do leite. Algumas soluções incluem:

Softwares de rastreabilidade para monitorar cada etapa da cadeia produtiva.

Sensores de temperatura nos tanques de transporte para evitar contaminação.

Plataformas integradas de gestão de fornecedores, garantindo que apenas leite dentro dos padrões seja aceito.

3. Auditorias internas e monitoramento contínuo

A realização de auditorias internas frequentes é fundamental para garantir que os fornecedores estejam em conformidade com as normas da IN77. Laticínios que implementam protocolos rigorosos de verificação conseguem minimizar riscos e evitar sanções regulatórias.

A adaptação à IN77 como diferencial competitivo

Embora a IN77 tenha sido criada para elevar os padrões de qualidade do leite no Brasil, sua implementação contínua exige mais do que apenas o cumprimento das normas. Os laticínios precisam adotar uma postura proativa, investindo em tecnologia, capacitação dos fornecedores e auditorias regulares para garantir a conformidade e transformar a qualidade do leite em um diferencial competitivo,


Publicado em: 23/05/2025